há no correr das horas um abismo só meu.
aqui me estendo, de pés presos ao chão
e mãos cheias de sonhos.
lá em cima na distância, onde só o meu olhar pousa,
espraia-se fogo e vida e som,
mas aqui no abismo sou eu e o silêncio tardio.
pudera eu ser mais leve que a minha fadiga
e levaria estes sonhos tristes à liberdade da existência.
mas neste abismo no correr das horas
tenho menos de mim do que o que sou,
menos que o silêncio ido e voltado,
menos que vida.
Insanidade Maquiavélica.
« Às vezes gostava de ser como a chuva. »
terça-feira, 2 de julho de 2019
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
gémea da minha alma
os anos correram e eu não.
esqueci-te, larguei as mágoas e amarras,
fechei os olhos ao tempo e ao sentir.
seria assim simples
- como suspiro profundo -
e não teria mais de te ver, irmã,
gémea da minha alma.
mas apenas deambulei cega,
de tropeção em queda,
e o meu corpo insensível e magoado
fingia não sentir.
fui enganada pelas palavras,
as que disse de mansinho,
sem que desse conta,
e julguei ser livre do que era
do que fui
do que sou.
e agora,
de olhos abertos e sonhos de dor,
descubro que as amarras cá estão,
que de mágoas estou cheia,
que nunca deixaste a minha beira, irmã,
gémea da minha alma.
esqueci-te, larguei as mágoas e amarras,
fechei os olhos ao tempo e ao sentir.
seria assim simples
- como suspiro profundo -
e não teria mais de te ver, irmã,
gémea da minha alma.
mas apenas deambulei cega,
de tropeção em queda,
e o meu corpo insensível e magoado
fingia não sentir.
fui enganada pelas palavras,
as que disse de mansinho,
sem que desse conta,
e julguei ser livre do que era
do que fui
do que sou.
e agora,
de olhos abertos e sonhos de dor,
descubro que as amarras cá estão,
que de mágoas estou cheia,
que nunca deixaste a minha beira, irmã,
gémea da minha alma.
sábado, 5 de novembro de 2016
tanto
já carregaste tanto
por tanto tempo
já foste tudo e tiveste nada.
e agora és chamada por quem não vejo.
talvez a verdade esteja nas palavras
que não dizes, ou talvez
nas que não lembras.
é uma viagem que fazes só,
a mais longa
a mais lenta
a mais longínqua.
para mim, que carrego as tuas mágoas,
a mais dolorosa.
esquece, que eu lembro
enquanto souber lembrar.
nas mentiras que já são honestas
disfarço a saudade.
já carregaste tanto.
foste o mundo.
agora é tarde;
carrega apenas as lembranças,
as que te fazem menina.
é tão tarde;
dá-me o teu braço
(sei que não gostas)
e vamos. eu leio-te.
já foste o mundo.
eu sou o resto.
por tanto tempo
já foste tudo e tiveste nada.
e agora és chamada por quem não vejo.
talvez a verdade esteja nas palavras
que não dizes, ou talvez
nas que não lembras.
é uma viagem que fazes só,
a mais longa
a mais lenta
a mais longínqua.
para mim, que carrego as tuas mágoas,
a mais dolorosa.
esquece, que eu lembro
enquanto souber lembrar.
nas mentiras que já são honestas
disfarço a saudade.
já carregaste tanto.
foste o mundo.
agora é tarde;
carrega apenas as lembranças,
as que te fazem menina.
é tão tarde;
dá-me o teu braço
(sei que não gostas)
e vamos. eu leio-te.
já foste o mundo.
eu sou o resto.
domingo, 3 de julho de 2016
é uma emboscada, a noite.
é uma emboscada, a noite.
é o morrer de um cansaço em pedaços,
de uma angústia dorida de arrastada pelo dia.
é a violência das descobertas feitas na escuridão
dos soluços quando não há mais palavras
nem gestos
nem sonhos ou
presenças.
há este vazio de solidão e esta solidão vazia
há falta de tudo e nada chega.
há gritos que morrem antes de nascerem,
quando se sufocam em lágrimas e remorsos.
há o conforto doloroso de que o dia chega.
amanhã.
outra vez.
do início.
é o morrer de um cansaço em pedaços,
de uma angústia dorida de arrastada pelo dia.
é a violência das descobertas feitas na escuridão
dos soluços quando não há mais palavras
nem gestos
nem sonhos ou
presenças.
há este vazio de solidão e esta solidão vazia
há falta de tudo e nada chega.
há gritos que morrem antes de nascerem,
quando se sufocam em lágrimas e remorsos.
há o conforto doloroso de que o dia chega.
amanhã.
outra vez.
do início.
24/04/2014
sábado, 14 de fevereiro de 2015
enquanto espero que esta hora passe
enquanto espero que esta hora passe
e me encontre à beira do caminho
tic
enquanto desvivo sonhos e pausas de ser
e troco suspiros por vozes manchadas
toc
enquanto sinto mais que sopros
menos que toques
tic
enquanto fecho os olhos e há mais em mim agora
toc
e já não sei que faço ou por que espero
e a hora passou e aqui me quedo
salva do tempo por negligência minha
coleccionando silêncio e minutos gastos,
enquanto espero que esta hora passe.
e me encontre à beira do caminho
tic
enquanto desvivo sonhos e pausas de ser
e troco suspiros por vozes manchadas
toc
enquanto sinto mais que sopros
menos que toques
tic
enquanto fecho os olhos e há mais em mim agora
toc
e já não sei que faço ou por que espero
e a hora passou e aqui me quedo
salva do tempo por negligência minha
coleccionando silêncio e minutos gastos,
enquanto espero que esta hora passe.
domingo, 10 de março de 2013
Há um silêncio profético
há um silêncio profético no cair da noite.
vem, e diz-me
tu não sabes viver, que viver é mais
e isso que fazes é longínquo como o horizonte,
conta-me em tom seguro.
mas eu já o sei,
conheço de cor todos os passos que não dou
e os caminhos por onde não me levo.
mas a noite chega e relembra-mos com histórias
e encontros despertos em decadência.
adormeço com a mente entrançada em contos
com finais infelizes.
[03.12.2012]
vem, e diz-me
tu não sabes viver, que viver é mais
e isso que fazes é longínquo como o horizonte,
conta-me em tom seguro.
mas eu já o sei,
conheço de cor todos os passos que não dou
e os caminhos por onde não me levo.
mas a noite chega e relembra-mos com histórias
e encontros despertos em decadência.
adormeço com a mente entrançada em contos
com finais infelizes.
[03.12.2012]
quarta-feira, 6 de março de 2013
Chove
chove,
como eu choveria se a minha alma
fora carregada de instantes vazios que despejo
qual imaculada certeza no mundo.
chove,
como eu choveria se soubesse que o tempo
se gasta em traços mal-amados
cobertos pela insanidade dos risos.
chove,
como eu choveria se houvesse em mim
razões para chorar.
mas eu sou um abismo de tristezas
pintadas a nada.
chove,
mas a chuva cai sem mim.
[20.11.2012]
como eu choveria se a minha alma
fora carregada de instantes vazios que despejo
qual imaculada certeza no mundo.
chove,
como eu choveria se soubesse que o tempo
se gasta em traços mal-amados
cobertos pela insanidade dos risos.
chove,
como eu choveria se houvesse em mim
razões para chorar.
mas eu sou um abismo de tristezas
pintadas a nada.
chove,
mas a chuva cai sem mim.
[20.11.2012]
sábado, 22 de setembro de 2012
cá dentro
as vozes estão todas dentro de mim
vêm de alegrias e comoção,
recheadas de auspícios de boaventura
— são arautos de medo
e estão todas cá dentro.
orladas de pérolas choradas
de abismos de tempo perdido
de sonhos gastos
que nunca tive.
estão cá dentro, com garras e morte
e gritos que cá ficam
porque estão cá dentro
e cá dentro ficam
vêm de alegrias e comoção,
recheadas de auspícios de boaventura
— são arautos de medo
e estão todas cá dentro.
orladas de pérolas choradas
de abismos de tempo perdido
de sonhos gastos
que nunca tive.
estão cá dentro, com garras e morte
e gritos que cá ficam
porque estão cá dentro
e cá dentro ficam
terça-feira, 10 de julho de 2012
amarras
preciso de uma realidade forte e suave
de gestos com palavras que me toquem
me prendam
me soltem
de desejos, não de sonhos
de mãos que me sustenham aqui
não me larguem para o céu
mas eu sei ser sozinha
e as amarras que preciso
prendo-as eu
por ora
(não chegam)
01.07.2012
de gestos com palavras que me toquem
me prendam
me soltem
de desejos, não de sonhos
de mãos que me sustenham aqui
não me larguem para o céu
mas eu sei ser sozinha
e as amarras que preciso
prendo-as eu
por ora
(não chegam)
01.07.2012
quarta-feira, 9 de maio de 2012
não estás aqui
há todos os espaços que precisam de ser cheios
e as palavras que não chegam nem lhes tocam
nos vazios onde cresce a noite
e nas horas quando se evaporam desejos
e não encontram voz em sussurros
quando os gritos são ecos
serás és foste foras
nunca serias ou agora
os olhos fechados ao quarto desenham clausuras
mas já não estás aqui
por que não estás aqui?
é a tua mão que oiço nos dias escuros
estendo a minha
e perdi-te.
por que não estás aqui?
e as palavras que não chegam nem lhes tocam
nos vazios onde cresce a noite
e nas horas quando se evaporam desejos
e não encontram voz em sussurros
quando os gritos são ecos
serás és foste foras
nunca serias ou agora
os olhos fechados ao quarto desenham clausuras
mas já não estás aqui
por que não estás aqui?
é a tua mão que oiço nos dias escuros
estendo a minha
e perdi-te.
por que não estás aqui?
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