Há palavras que nunca te disse.
Palavras, apanágio meu, que são meros percalços,
soluços gastos que a vida me trouxe. Não precisam de ser ditas,
sabe-las sem as ouvir, que as vozes distorcem as almas.
Palavras sem cor, do monótono e opaco branco
que nem sempre se esvai, daquele que é feito da minha indiferença.
São rastos fecundos da nostalgia que me fende, no silêncio triste
da noite a caminho da solene e leda madrugada.
Há palavras feitas de mel.
Meigas, tecidos brocados de saudades, de tempos, de sonhos,
sabem a lágrimas doces tingidas pelo riso, retinindo em cores
que fazem esquecer o doloroso do mundo que nos retém.
Foram quiçá palavras que senti, quebradas pelo não-dizer,
enforcadas pela torrente que morre ao sair;
não digo, não sinto, não sou.
Pois que não seja, de nada serviria ser se as palavras,
pecados revoltos de jamais serem tocados,
são obscuros enleios que nos ancoram à dor,
ao medo de as dizer, de as não proferir, que flutuam na ansiedade
que ao longe recheia as vozes. Dizer, não dizer.
E nas palavras que não te digo —
que nada devemos ter nas mãos
e as palavras são mais que nada,
nas mãos, nos olhos, na boca, —
suspiro os mundos que sonho e crio,
sem nunca tos dizer porque creio, talvez sem fim,
que o silêncio te sabe dizer as palavras que não te digo,
as palavras que nunca te disse.
7 comentários:
Gostei. Esse silêncio que fala palavras.
Obrigada.
Uma paz profunda do silencio das palavras... ^^
Nunca me desapontas, kath ;)
É tão bom quando as pessoas sabem entender as palavras não proferidas ^^
Gostei muito do teu poema, caríssimo Mal!
Ainda bem, Bonnie, é bom saber que estou à altura!
É sim, Leto, sabe mesmo bem. :) Ainda bem que gostou, Senhora do Crepúsculo!
Está muito bonito, como seria de esperar de qualquer poema que venha de ti. Obrigado. *
De nada. *
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