terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Escada da Solidão.

A escada da solidão subo só.
Só, por entre os odores a velho e a tabaco e a autocarros antigos.
Sob a intermitência da lâmpada isolada.

Só, neste vazio de corpos e degraus caiados de idade,
nesta subida indecisa e incompleta.
Sempre para cima,
sem necessidade de pleonasmos redundantes,
rumo a estas planícies somente minhas.

Só, encaminho meus passos que hesitam e tropeçam
mas nunca recuam.
Que o caminho que deixo para trás,
como se atirado pelo ombro,
resume-se a um nada evanescente.

Só, nesta escada espiralada
que nunca segue senão a direito,
e cuja lâmpada intermitente nunca muda.

Só, sem tornar doridos os membros,
ou a respiração ofegante do cansaço,
enquanto o longe não se aquieta.

E subo só a escada da solidão.

domingo, 14 de setembro de 2008

Inconstância.

"your faith was strong but you needed proof"

Não conto os dias que passam
os que colhi nos tempos da juventude ansiada
e que deito agora para jazerem no crepúsculo,
neste entardecer que agracia os tons.

Se a mim não me enche a fé,
de que me servem os bastiões dourados
impregnados de crenças em que não creio?
Já passou o tempo da confiança.

Construindo muralhas de esperança
cairemos de mais alto
do alto dessa escadaria
do topo dessas muralhas de assassina pedra.

Mais tarde, na noite tardia
aplacamos as vontades com outros desejos,
os de ornar o mundo de que nos repugnamos.
Porque de noite a cor esvai-se

e não vemos a dor
nem o medo repleto de cobardia
ou sequer a ganância que temos como modelo.
Some-se a solidez do cansaço.

Se te disser que o dia é lento, as canções ainda fazem sentido?