quarta-feira, 26 de maio de 2010

as cores do mundo

se o mundo tem cores não as vejo,
lavadas pela chuva do amanhã
que te embebeda os sentidos.
tudo é abulia inglória, singela apatia
feita da morta 'sprança,
e o sono dos justos foi em tempos,
agora é dos que ousaram sonhar.
"amar" é palavra vã, pois como se ama
se tudo é o mesmo e é impossível amar tudo?
já não temos idade para lágrimas ou
nuvens cerradas no bolso para dar,
e as apoteoses da ciência tocam outros
que não nós.
caí na repetição
caímos na repetição
caiu o mundo na repetição
e cheira a monotonia,
cheira ao mesmo e ao sempre
com golfadas de inusitado.
quando te afastares para casa hoje
será a última vez
até amanhã.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

do ponto onde te encontras

do ponto onde te encontras vês a borda do mundo,
estendes os dedos e vences a manhã com carícias pagãs.
cresce o dia, vai tarde a vontade, agora, nem todas as vezes
é repouso o sonhar que fazes.
fosse toda a música feita de ti, como a fazes,
e nascerias da abulia que esgrimes como arma de sopro.
sopro, pois que todos os ventos são resquícios de memórias,
e as noites apagam-se com a facilidade de velas murchas.
é desta! toca, sente, ergue a face e roça as nuvens que te aspiram,
milagres antecipados e feitos da erva que te acorda o caminho
durante a manhã que venceste com carícias pagãs.
sê heresia.
sê o cantar mais inocente que a ponta da tua caneta alcançar
e suspira confissões escondidas; ninguém tas saiba que te votam ufano,
vendendor de almas a troco de ingenuidade.
os pecados, sentidos como beijos contraditórios,
são somente papéis banhados no rio de versos perdidos,
lavados da cor pelo ondular do tempo.