quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vira na brisa da noite.

Vira na brisa da noite quente enquanto finges
perder todas as amarras aos sonhos.
Sopra o mundo nessas tuas mãos de princesa quebrada
como se soprasses os dentes-de-leão que evocas.
Surpreende as distâncias como se as conhecesses
e alarga os espaços de trevas que te desenrolam.
Conta os universos em que já viveste e provoca
os maremotos no teu coração de pedra polida.
Sente como se amanhã fosse hoje e nunca mais chegasse
e todas as noites fossem esta com os sonhos que tens.

Cumpre a Moira bem mandada e funde-te contigo
sem as ilusões incoerentes da diáfana loucura do que é teu.

[Mais para actualizar que por outra coisa,
ou vem a Nini ralhar-me subtilmente.]

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Claustrofobia.

É vazio áspero e perene que arde em ira consumida,
É angústia una e ubíqua que de ser parece inócua.
Se há brisa clara, é calor de jaula cercada de deserto
É ter o mundo pela frente e ser só em novelo de si.

É poço é abismo é céu é profundo nada!
É falha! É todas as horas que jamais,
Nunca! foram vividas e se perderam gastas pelo tempo.
É rasgar a alma do fundo pelo mundo!

É quebrar o ser no fim de tudo, antes sequer, contudo,
De o tudo poder, antes de mais, começar.
Claustrofobia exaurida de costas corcundas,
Pesadas de si e da nunca-existência em motins.

Liberdade! Eis que clamas e ninguém te ouve,
És-te acima das ondas do turvo mar dormente,
Submersa em desengonçadas empresas, míseras.
Não te custa mais ser nada em terra de loucos.

É o cansaço desbastador de ambições tamanhas,
É desmedida soberba, de homens senhora,
É condensado ridículo em mãos inábeis!
Oh, desafio que é a vida em desgraça tanta!

É a fuga e retorno ao pesadelo sonhado,
Caule de flor sem pétalas; nem bem-me-quer,
Nem mal-me-quer, nem me-quer-pouco-mais-ou-menos!
E no vento da tarde ficam os restos soprados da razão.