domingo, 31 de maio de 2009

Quero sentar-me na noite.

Quero sentar-me na noite e jogar às cartas com o Silêncio.
Esquecer que há mais que aquelas trevas banhadas de luz rasgada
e que aqueles momentos em que as horas não passam.

As cores fundem-se e mesclam-se suavizadas pelos candeeiros,
pelos travos de luar na língua - agridoces, amargura em pó -
pela companhia única que somos eu e o Silêncio.

Se eu não bisco ele não bisca e jogamos assim,
por turnos, este jogo de sorte do qual não gosto
mas serve de entretien e te enlaça e a mim.

Pergunto-me (escassos momentos, os pensamentos escorrem depressa
para o ralo de vácuo do sono) o que me faz a ti tão apegada.
E se não te quero comigo apenas canto.

Trazes contigo o calor da Raiva e o frio da Solidão,
e quando, nesses raros momentos de luto por ti,
vens só, somos quase amantes cansados, não é verdade, meu doce Silêncio?

Se cometêssemos o adultério das palavras,
tropeçando em votos teus por ti por mim por nós pelo resto,
abandonavas-me sem a misericórdia do relancear último.

Derrete a noite e embalamos estas histórias,
as encarnações que vivemos tantos e muitos anos,
és a minha ternura serena e eu sou a tua mundaneidade.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Aliterações da treta.

Oh caminhos vagos que vogo vagarosamente,
Varram de mim as veras verdades, vergonhosas!
Vivo vontades vastas e vívidas
Vivo vagas de vis oceanos verdes de vida.

Ah cantares calmos de coros castrados,
Corram as cores, as cortinas coloridas!
Canto canções criadas por querer
Canto cânticos incongruentes com o que creio

Ah mártires de mundos medonhos,
Mandem embora meus medos malditos!
Minto mitos mergulhados em mares mil
Minto maldições maravilhadas de maldade.

Ah se sonhasses sincera e sensivelmente,
Se soldasses sonhos e sonoridades sólidas!
Sou solidão que sobe sempre para cima
Sou ser sentido, serpente sombria de salvação.

domingo, 10 de maio de 2009

J'adore tien blog.

A culpa é da Leto, que eu não costumo meter coisas destas no IM! x) Agora tenho de cumprir regras. Ora vejamos.

1. Colocá-lo no meu blog;

2. Indicar 10 blogues que adore;
As Ameias do Crepúsculo (Se tu podes, eu também!)
Sonhos Rubeáceos
pseudo-reflexões
Noites de Tempestade

Lydo e Opinado
O Salmo dos Salmões

E fico-me por aqui que sou preguiçosa (mais que tu, Leto!)

3. Informar aos blogues indicados que receberam o selo;

4. Dizer 5 coisas que adore na vida e porquê.

Chuva.
Porque é uma realidade inconstante e melancolicamente alegre.
Certas e determinadas pessoas.
Porque tornam felizes os piores dias.
Música.
Porque tem um efeito parecido ao de certas e determinadas pessoas.
Escrever.
Porque olhem, idem.
EU!
Porque sim, claro.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O que amo.

Nada mais há que ame que não o amar alheio
O olhar que se derrama pelo soalho polido
A gargalhada ofuscada pelo silêncio,
shhhh.

Nada mais há, pois amo eu o que não me resta
A saudade do ontem que afinal não pode ser —
Não será, — transposta para o futuro
O que quando foi não o quis.

Não amo mais que isso, que o nada
Esse que se prende com os outros,
Com os abraços vividos em consonância com o tempo
Com as mãos enlaçadas em 'sperança.

Amo o dia que não é meu,
Amo a noite que nunca me toca,
As vidas que me roçaram
Tangentes, jamais me tocaram.
Amo o sempre e o todavia,
Quando se encontram nas encruzilhadas
Manchadas por tiras de medo.
Amo as horas que revoluteiam e se repetem
Sem jamais se repetirem.

Amo-vos, oh seres consagrados da injustiça,
Amo a Moira que fado traça e cumpre
Ainda que a odeie mais que à tesoura rangente.

Amo os caminhos destraçados e as práticas desfeitas
Os cânticos imbuídos de insignificância dramática
Expoente maculado de coisa nenhuma
que eu amo.

E vivo o que amo no amor alheio dos que amam mais que eu.

[Dedicatória às duas Ninis.]