terça-feira, 19 de outubro de 2010

dorme bem, noite.

fora, lá fora, cheira a serra e a noite.
cá dentro há a tranquilidade doce em que se esconde o ensandecer tardio,
moribundo soberano, déspota intemporal perdido em ruídos vãos.
mas no quarto cansado em que correm as trevas pela luz quebrada,
é pela janela que entra a monotonia serena e sem soberba do dormir do dia,
é pela janela que se evade a noite da rua e vem, suave, leve e ternamente, a mim.

dorme comigo, noite! dorme esse sono que sentes em omnipresença, dorme comigo.
e em ti, enquanto esquecemos o resto e me entras pela janela e foges do mundo,
nos lençóis da minha infância, na cama desfeita de indolência ociosa,
passamos pelo abraço eterno do cansaço perfeito.
dorme bem, noite.  

[Para o Colinas]