quarta-feira, 29 de abril de 2009

A vida é um escorrega.

A vida não é um comboio, é um escorrega. Não há estações, paragens, apeadeiros ou cafetarias onde se possa beber um café enquanto viajamos. A vida só pára uma vez, é parecida ao tempo com a diferença que este não pára nunca, ou não seria tempo.
É um daqueles escorregas ondulados com subidas e descidas e, assim que passamos de uma para outra, o rabo bate no metal e fica dorido, talvez com umas nódoas negras que hão-de desaparecer ao fim de algum tempo. (Mas nunca sem se ficar com o traseiro calejado.)
A vida cansa, não há pausas para descansar nem momentos de contemplação sem que ela passe e estejamos a perder minutos e segundos. Podemos ficar, por vezes, talvez apenas alguns de nós, fartos de arrastar por ela as nádegas, ficando com elas rubras e a arder, e pode ocorrer-nos a ideia de saltar naquela altura, naquele instante, acabar com a dor e com os angustiantes altos e baixos. Se continuarmos, bem, continuamos, apreciamos a paisagem que se estende do alto do escorrega até chegarmos ao fim, finalmente, e cairmos abruptamente no chão de terra batida. Acaba o escorrega, a dor e a paisagem bonita.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Lancei-te ao mar no outro dia

.Lancei-te ao mar no outro dia e não esperei resposta
Coube-me o mundo nas mãos invertida fé no tempo

!"Antes no tempo que em mim! Rodei a vida nas mãos
Fiz-me de Moira santa enrolada em cetim de crenças"

.Sorri ao mar que t'engolira e não te voltaria a ver mais
Joguei atrás de ti dixe teu a que eu chamava quinquilharia

!"Pois que sabes tu de jóias se tens nas mãos o mundo
E afinal não era o mundo e era eu! Chamo-te eu vão"

.Virei o mar de reverso para te ver naufragar no profundo
Debrucei-me com cuidado por te querer longe de mim

!"E longe fiquei eu! Mais longe que o possível por nós e cordas
Viste-me naufragar e não me estendeste a mão quando sufoquei"

.Revirei de novo o mar e serviu-me agora de espelho rotundo
Emoldurado pelo céu e pela linha de fundo que é o horizonte

!"E eu lá fiquei no fundo! Queda e muda e afogada no azul
E tu sorriste-te e eu pensava que era a mim que sorrias"

.Oh tão amado que me fui quando te lancei naquele dia ao mar
E te esqueci. Esqueci a cor dos teus braços e o toque dos dedos

!"Pois se nos teus seguravas o mundo e todas as outras mãos
São vãos de escadas! E eu fico no fundo com a minha jóia"

.Sorri finalmente por último e virei costas ao mar e a ti
Depois que te lancei ao mar naquele dia e te esqueci

!"E eu fiquei no fundo do mar onde me lançaste! E já a morrer sorri
Enquanto viravas tu as costas a mim e ao mar onde pereci"

[Para o Colinas.]

terça-feira, 7 de abril de 2009

Dorme em paz.

e agora o que resta? talvez
um rol de memórias ou então
uma presunção de vida.
são ecos tão ternurentos daquilo
que foi e que agora vai continuar
a ser. porque não esquecemos e é
apenas uma noite e umas saudades
eternas vividas compartilhadas.
e quando despertam as lágrimas, elas e
as recordações, mantemos-te os palavrões
e as pragas. e para sempre refilarás
e para sempre estaremos cá para te ouvir.

dorme bem.