sábado, 4 de julho de 2009

Deuses sem pátria

já vimos morrer mais um dia.
já sentimos que o sol se põe connosco
e já demos as mãos em todos os poentes.
já lemos os livros de palavras soltas
que nunca nos disseram aquilo que queríamos.
já sentimos a dor intragável da exclusão
e contrabandeámos a negligência .
já fomos mais, oh, tão mais,
que todas os sentidos, cinco, seis,
e murchámos qual rosas moribundas
em seca que almeja carcomer o mundo.
já conquistámos devastámos as cores
que não acreditámos belas,
porque nada há mais belo que nós.

mas já tudo fizemos sem propósito outro,
maior ou menor, é certo,
que o prestígio que nunca alcançámos,
porque os deuses não são entre os homens,
e nós somos deuses entre deuses sem pátria.

[Coisita para o Colinas.]