segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ténue vagem de espr'ança

Ténue vagem de espr'ança,
por que para tão longe te foste?
Partiste sem um adeus,
sem um aceno que fosse.
Que deixaste para trás?

A lua ebânea que tremeluz,
como se também ela quisesse partir.
Sim!, que todos os astros te amam,
são poemas embebidos e escritos
com a tinta da tua felicidade!

Que vazio, oh, dor que resta,
encriptados pelo inglório esforço
(ou talvez natureza) de perdão,
que corrompe o mundo de dissimulado,
a dois
e dois
e dois,
espírito velho e cansado.

Delicia-te no masoquismo velado
que se atravessa por este vento,
nestas (des)graças que te quebram,
e o balanço é precário,
porventura como sempre.

Diz-me que não queres mais,
que o que deixaste é meu,
que é tudo da verdade mais pura!
Não, oh não, não me tentes convencer,
não me sustenhas as lágrimas
que se me correm, céleres em mágoas,
vazando-me o corpo de tormentos.

Vive-me o credo na boca e
quero-o fora daqui, depressa!
Ide nesse vosso embalo transtornado,
em sinuoso embuste de falsa trapaça.

Clamo como o poeta em tempos clamou,
chamando a si seres das trevas e fantasmas,
porque a noite é deles e eu partilho-a,
incessante e metaforicamente,
pois se noite são as horas raiadas de sol!

Talvez seja tudo disparate,
asneira embrulhada em bela seda,
engano que tomei por tão certo.
Mas digo-me que não,
que tudo é correcto e meu
ainda que errado e alheio,
e entranço-me de fé neste desejo,
carência profunda de um je-ne-sais-quoi de perfeição.