domingo, 19 de setembro de 2010

Nostalgia

faltam-me aqui, no calor escorreito e leve, as gargalhadas roucas da tua alma
e os bocejos que tocam os fins das manhãs, do tamanho do teu imenso sorriso.
e todas as discussões são estradas de paciência mal calcorreadas, perdendo-se
enquanto chegamos a lado nenhum entre palavras acesas de teimosia.
outros te diziam o mesmo, a ti que és quem me lembro de não ter,
que guardavas os actos para a gentileza e a acidez para os discursos virulentos,
que aquecias de amor ou frustração com tua impetuosa voz, mas nunca foste tu de ouvir,
ou eu, que é de família esta surdez, memória bem-amada e contraditória, pejada de saudades.
e, não te vendo, sabe que estás entre as alegrias e és lembrado com tanto carinho que dói,
e que a árvore que podaste cresce de ano para ano, mais alta e imponente que nunca.  

[Para o Colinas.]