quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pobre crença destroçada

Pobre crença destroçada,
Farrapo vogando perdido,
Foi Fado teu (incompreendido)
O de crença falsa, maculada.

Nada te prende ao presente,
Sopras tuas palavras gastas
Para longe, tão longe, as afastas,
Lança-las agora à célere corrente.

Corre o rio embrulhado em si,
Sempre no caminho mesmo e, todavia,
Não corre já o rio que usuía,
O rio ao qual, um dia, deitaste parte de ti.

És pois agora estilhaço,
Caco requebrado e inútil,
Vida esquecida, perdida e fútil.
Se ao menos ao rio não deitaras pedaço.

[20/09/09]

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Amargura.

em que consiste a tua amargura
que escorre insípida pelas ruas da noite?
mísera solitária em que se perdem vagabundos sonhos,
errando na soberba magnífica
onde jazem os abrigos, portos d'alma.

espírito maculado, finda-te,
não te quedes mais em arguta terra de ninguém,
terra mal-amada que se abre em espanto,
caída finalmente no sopro dos ciprestes,
que te lembram sempre o mesmo,
que o viveste uma vez (se uma te chegou).

não sejas, enfim, mais que suspiros vagos,
derradeiros sopros no tempo poente,
pois se não te restam mais frutos da companhia,
não tornes putrefactos d'aquem os medos,
que para terror já te basta o teu,
bastião da tua quase humanidade.