domingo, 27 de novembro de 2011

sereia

afundei todos os barcos sem que soubesses,
marinheiro,
que é ida a hora em que te poderias salvar.
apaguei os traços dos navios,
em mastros partidos afiei as garras,
em lemes tomei comando de profundezas

soubesses, marinheiro, que minha voz é outra!
que palavras são rasgos em sangue
que são lascas cravadas de barcos perecidos
e arrastados ao nunca por mim

soubesses, marinheiro, que minto.
que não te digo o que falta e
sou eu

mas não sabes, pobre marinheiro,
que nesse embalo que sentes,
entoado pelo meu mundo de trevas ondulantes,
chegará teu fim dorido,
olvidando-te a alma que tomei como minha

e não saberás, meu tesouro,
mais que o toque árido e gelado
das águas que são minhas,
para sempre

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Não chega.

não chega.
como chegaria se é uma imensidão pequena
cheia de coisas de nada?
não toca o fundo e alcança o nada
e nunca chega.
não chega.
não doira as bordas da indomável,
não pinta os sonhos ou orna as cores.
pequena insignificante incompreensível.
dorido rasto de soberba e imaculada arrogância,
nos instantes arrastados e mudos.
não chega.
não!
pois se não tem querer ou vida!
não, não chega!
o que resta de sobras do que satisfez o moroso tempo
é um resquício irascível que fenece sem horas.
não chegou.

domingo, 10 de abril de 2011

quebraram-se as pontes

o lápis traça as linhas em que me oculto
neste céu de pétalas de glicínia vetusta,
nestas cores pálidas de amanhecer.

é um infinito em que o mundo não escorrega
e o tempo passa como se não passasse.
há nas letras mais vida e nas formas mais ser
e as palavras não doem. e eu não
sou.

as pontes quebraram-se e
shh, é a hora eterna do silêncio,
parceiro de cartas até ao final
da noite sem fim
(aqui onde me deixo)

quebraram-se as pontes e
as letras são minhas.
novamente.