domingo, 27 de novembro de 2011

sereia

afundei todos os barcos sem que soubesses,
marinheiro,
que é ida a hora em que te poderias salvar.
apaguei os traços dos navios,
em mastros partidos afiei as garras,
em lemes tomei comando de profundezas

soubesses, marinheiro, que minha voz é outra!
que palavras são rasgos em sangue
que são lascas cravadas de barcos perecidos
e arrastados ao nunca por mim

soubesses, marinheiro, que minto.
que não te digo o que falta e
sou eu

mas não sabes, pobre marinheiro,
que nesse embalo que sentes,
entoado pelo meu mundo de trevas ondulantes,
chegará teu fim dorido,
olvidando-te a alma que tomei como minha

e não saberás, meu tesouro,
mais que o toque árido e gelado
das águas que são minhas,
para sempre