segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sabes o futuro.

sabes o futuro
presença omnisciente que conhece, mais que todos,
o ritmo do tempo.
pelo que sabes o futuro.

fecha as pétreas pálpebras, translúcidas de puras veias,
tão azuis de teu nobre sangue.
e, contudo, já não mais há aristocracia,
desfeita pelos enlaces amargos, sustidos por suspiros moribundos,
dor comum de princesas mortas de cravejados cansaços.

com tuas mãos traçadas a vidas,
sabes o futuro.
basta-te olhar em frente e imaginar os dulcíssimos sabores
que te sorriem, de olhos diversos e imprevistos que não v~es,
que só vês o futuro teu, o dos demais é incógnita de sol em noite o'scura.

asinha!, que se é tempo não espera, nunca foi ele de aguardar.
lê agora o futuro, enquando imberbe e tecido de sonhos,
visto vítreo e mal-amado.
porque não queres saber o futuro.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Há melancolia.

Há melancolia no que tocas,
Nostalgia no que tocaste.
Não há silêncio, lamentas-te,
Mas os sons que há são teus,
Pranto inaudível sem lágrimas,
Esses pedaços doridos de alma
Que te livram de te afogares,
Desdita ironia.

Pergunto-me: que julgas pior?
A noite de sombras sem luz
Ou a manhã de trevas sem esperança?
Ambas, talvez, fragmentos corrompidos do dia?
Pequeno novelo de desespero,
Solitário nicho de sabe-Deus.
[Medo?]

Se soubesses mais que queres,
Mais profundas seriam tuas pontadas,
Mais profusas as temerosas aguilhoadas.
Esclarece então, que sem sol não há noite,
E sem ti não há mundo.
Quiçá existes só tu,
e o resto é sonho.

[11.11.09]

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

És música.

[A quatro pessoas,]

és música.
era assim que te definiria, se me pedissem definição.
porque não te sei dizer quem és, se és mais que uma,
mas de todas as vezes é como se de uma só se tratasse.
mesmo que uma fosses, porventura te chamaria música.
assim, suave, com cada nota solta e reverberante,
porque sei perfeitamente como te definir. ou talvez não.
mas serias música, ainda assim. não tocarias sempre,
porque sempre é palavra insegura, que depressa o balanço perde;
serias antes inconstante como sol em dia nublado, que as músicas,
amando-as então pelo que valem, não se tocam ininterruptamente,
alternam com outras de forma vaga.
és música de que não me farto, não esqueço nem rejeito,
sei-te de cor e, todavia, sempre (ei-la!) te aprendo de novo,
de outra forma subtil e tão diferente. sinto-te as nuances que tomas,
vez a vez, de cada vez que te oiço. e vejo!, que por seres música és em tudo:
nos dias de manhãs carregadas ou no nascer claro do sol,
na torrente chuvosa dos (adorados!) dias invernais, que meus!,
nas lentas e plácidas tardes do caloroso estio.
és música, e de quando em quando és salvação, quiçá mais que pensas,
pois que são precisas âncoras para combater —
não, não interessa.
és música de calafrio, de gargalhada, de abraço reconfortante.
peço-te então, por favor; com jeitinho e em voz sussurrada,
solene de ser quem sou, de seres quem és,
não deixes de ser música, aquela canção à alma,
ainda que possas deixar de o ser para mim.