segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Clique.

Quando perdeste os limites que detinhas
Que te embalavam no regaço folgado
De pregas caídas e cercado de flores,
Flores gastas e murchas, retorcidas e secas,

Então te tornaste nesse corpo sem fim,
Carcaça de vida que era suprema (por ser vida),
Resposta entremeada de satisfações e
Permeada de desgostos iludidos.

As cidades não te dizem nada,
Não mais que as janelas abertas
Que conduzem a olhos descontentes,
Filtros consumistas do alheio.

Clique! Estala o chicote que te afaga,
Levemente, a pele, e deixa na palidez
Marcas suaves de cicatrizes futuras,
Nunca apagadas por reminiscências.

Saboreias essa dor momentaneamente,
Já a provaste antes mas nunca é a mesma.
Desta vez traz consigo um travo a culpa,
Cortante, que te permanece na língua.

Oh, sim, tu bem soubeste que era incorrecto.
E sempre soubeste que adviria do erro o castigo,
A punição pela incoerência dos deuses,
No mundo em que vives sem credo nem rei.

Clique. Clique. Encontras-te quando
Estala o chicote que te acaricia, suavemente,
E despojas-te da vida efemeramente,
Apenas para conheceres a tranquilidade da noite.

[Para o Colinas.]