domingo, 27 de novembro de 2011

sereia

afundei todos os barcos sem que soubesses,
marinheiro,
que é ida a hora em que te poderias salvar.
apaguei os traços dos navios,
em mastros partidos afiei as garras,
em lemes tomei comando de profundezas

soubesses, marinheiro, que minha voz é outra!
que palavras são rasgos em sangue
que são lascas cravadas de barcos perecidos
e arrastados ao nunca por mim

soubesses, marinheiro, que minto.
que não te digo o que falta e
sou eu

mas não sabes, pobre marinheiro,
que nesse embalo que sentes,
entoado pelo meu mundo de trevas ondulantes,
chegará teu fim dorido,
olvidando-te a alma que tomei como minha

e não saberás, meu tesouro,
mais que o toque árido e gelado
das águas que são minhas,
para sempre

3 comentários:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Que vil sereia... gostei gostei ^^

*rouba*

Kath disse...

É uma sereia má, não roubes que ela papa-te!

tempus fugit à pressa disse...

serei a?

afundei sem que soubesses, todas as naus

marinheiro morto, o mar te guarda

no teu esquife feito de velhos paus

tua mortalha é tua farda


é ida a hora em que te salvar poderias .

pois tão nítido no azul profundo

nesse mar em que por braças medias

a profundura do mar em que te afundo


serei a sereia que sou

uma angústia de sal me desenha

neste mar azul em que estou

é certo que a morte venha

tu que apostas na vida a cartada

fazes marinheiro a aposta errada

pois apaguei os traços dos navios,

em mastros partidos afiei as garras,

urdi naufrágios em negros fios

em todos os portos em todas as barras

sem leme tomei comando de profundezas

e em marinheiros e soldados

nas garras espremi todas as certezas

e nesses corpos da vida esfolados

meti profundo o meu dente

e contra tudo e toda a gente

ninguém me tira dos dedos

lendas de naufrágios e enredos

e pelo mar dentro às escondidas

parto para novas surtidas

soubesses, tu marinheiro,

que minha voz abarca o mundo inteiro

ou coisa assis