quinta-feira, 18 de março de 2010

há dias assim.

hoje a chuva cheirou a chuva.
tirei o riso do âmago e ri, e o riso cresceu na rua larga
sob o plúmbleo céu de quase-primavera.
a chuva que cheirava a chuva, num riscar do limiar das estações,
roçou-me a pele como quem roça o sonho,
num entre-suspiro de aroma a infinito. cheirou-me a chuva
sobre o betão salpicado, naqueles segundos feitos para o mundo.
a sorte crescia-me na língua e o dia fugia de mim, pautado pelos rasgos
de sentido de sintonia com as horas.
foge o dia o tempo as cores, resta o cinzento vivo do céu choroso
e a luz morta do quarto, com paz, que paz, agora que se escoa a sorte da língua.
porque há dias assim, de terna alegria contida no viver,
dias em que a chuva cheira a chuva.

3 comentários:

Anónimo disse...

Está tão lindo! *.*

É um dos meus preferidos até agora!

Kath disse...

O Sapiens fez uma música com ele! :D

Obrigada. ^^

Patrícia disse...

Adorei! Mas já é invevitável não o ler com música xD