sexta-feira, 21 de março de 2008

Sonhos de Alfazema.

Dir-se-iam sonhos de alfazema.
Mas aquiescem e perdem os sentidos -
são cegos, agora.
Mudos, surdos, paralíticos cadáveres
compadecidos pelos vivos.

São o que restou dos destroços
de tempestades irreais,
as ruínas à deriva em mares iludidos.

Caíram no degredo da putrefacção,
olvidados pelos escombros,
caixões pesados - barcas além-rio,
para atravessar para os mundos de Hades.

Perséfone embala-os meio ano,
prendendo-os em bagos sumarentos
trazidos de aleg(o)rias de vivos.

São fragmentos, estilhaços de porcelana,
a quem lhes foi roubado o espectro.
E vagueiam, em eternos oceanos do submundo,
em busca das violáceas recordações de alfazema que,
outrora, foram.


[Para o Colinas.]

2 comentários:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Lindíssima a alusão ao Inferno de Hades e fantásticas as metáforas que o envolvem.

Gostei ^^

Kerhex disse...

Giro, gostei em especial da estrofe onde fazes referência a Perséfone.
Juizinho.
Beijinho.
Adoro-te***