sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Há palavras que nunca te disse.

Há palavras que nunca te disse.
Palavras, apanágio meu, que são meros percalços,
soluços gastos que a vida me trouxe. Não precisam de ser ditas,
sabe-las sem as ouvir, que as vozes distorcem as almas.

Palavras sem cor, do monótono e opaco branco
que nem sempre se esvai, daquele que é feito da minha indiferença.
São rastos fecundos da nostalgia que me fende, no silêncio triste
da noite a caminho da solene e leda madrugada.

Há palavras feitas de mel.
Meigas, tecidos brocados de saudades, de tempos, de sonhos,
sabem a lágrimas doces tingidas pelo riso, retinindo em cores
que fazem esquecer o doloroso do mundo que nos retém.

Foram quiçá palavras que senti, quebradas pelo não-dizer,
enforcadas pela torrente que morre ao sair;
não digo, não sinto, não sou.
Pois que não seja, de nada serviria ser se as palavras,

pecados revoltos de jamais serem tocados,
são obscuros enleios que nos ancoram à dor,
ao medo de as dizer, de as não proferir, que flutuam na ansiedade
que ao longe recheia as vozes. Dizer, não dizer.

E nas palavras que não te digo —
que nada devemos ter nas mãos
e as palavras são mais que nada,
nas mãos, nos olhos, na boca, —

suspiro os mundos que sonho e crio,
sem nunca tos dizer porque creio, talvez sem fim,
que o silêncio te sabe dizer as palavras que não te digo,
as palavras que nunca te disse.

7 comentários:

Tiago Mendes disse...

Gostei. Esse silêncio que fala palavras.

Kath disse...

Obrigada.

Unknown disse...

Uma paz profunda do silencio das palavras... ^^

Nunca me desapontas, kath ;)

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

É tão bom quando as pessoas sabem entender as palavras não proferidas ^^

Gostei muito do teu poema, caríssimo Mal!

Kath disse...

Ainda bem, Bonnie, é bom saber que estou à altura!

É sim, Leto, sabe mesmo bem. :) Ainda bem que gostou, Senhora do Crepúsculo!

Kerhex disse...

Está muito bonito, como seria de esperar de qualquer poema que venha de ti. Obrigado. *

Kath disse...

De nada. *