quinta-feira, 12 de março de 2009

Jardim de Sonhos.

Olha que tarde tão bela, meu amor. O sol derrete-se sobre as nossas peles que descalçámos para a Primavera; não há aqui lugar para pesadelos. Ficam longe, à distância de um anoitecer sereno e tardio, depois de um pôr-do-sol mavioso. Deixamos por terra, na erva verde que cresceu antes de tempo, perto dos trevos que não garantem a sorte, as mágoas e as iras, que neste momento fustiga-as Zéfiro por tão pouca compreensão.

Cheira a estio sem ainda ter chegado a nós Perséfone; sobe agora, decerto, as escadas dos subterrâneos de Hades, de passos apressados pela saudade da mãe (saudade essa nossa, tão nossa, do que foi e é e nunca do que será). Espera-a Ceres fecunda, mas ainda é cedo, ainda não a liberta o senhor das profundezas.

Que te parece do dia, meu amor? Não preciso de resposta, vogam sombras arbóreas pela tua face mas voga também um sorriso, que belo sorriso, sorriso belo como a tarde. Escuta, fecha os olhos e sente Artémis deslizando pelas frondosas copas em graciosos saltos.

O tempo passa mas temo a noite. Temo mais que a escuridão, temo os olhos cerrados e a consciência perdida, derramando-se pela cidade de infrutuosos recônditos. Estou aqui agora, porém, e agora não há noite, há tu, há eu, há nós. Rogo uma prece silenciosa a Morpheu e peço-lhe que afaste de mim seu vicioso irmão, que de meu sono mantenha Phobetor longe.

Ainda não é noite, e contigo não há pesadelos.


[Dedicatória.]

2 comentários:

Kerhex disse...

Obrigado, lontrinha maldosa. Está perfeito, como tu.
Gosto de ti. ^^ *

Tiago Mendes disse...

Perfeito, não tenho palavras para descrever aquilo que poderia escrever. Todo o vocabulário, todos os chamamentos aos deuses... todos os pensamentos positivos e os elementos naturais referidos...

Escreves TÃO bem, oh Mal! x)

Tiago