domingo, 15 de março de 2009

Perdi-te sob as chuvas.

Perco-te sob as furiosas chuvas de abril, Onde estás, mas é em vão e não te encontro mais. Apalpo pelas ruas e esquinas e vagueio em labirintos criados pela memória ou pela falta dela, sorteio destinos e escondo-me das gotas; porém elas perseguem-me e arrastam-se atrás de mim como eu me arrasto atrás de ti, Onde andas, mas não me ouves e não te encontro mais. Enregelo neste percurso trilhado de apatia porque já não sei há quanto tempo deambulo e o que encontrei até agora, enquanto gasto a garganta e chamo por ti, não sei se alto ou apenas num murmúrio cerrado, Vem ter comigo, mas a voz é rouca e não te encontro mais. Esqueço os nomes as datas as recordações e esqueço o mundo debaixo da chuva teimosa, essa de uma persistência que rivaliza a minha e que me estremece porque não me larga, não me deixa, não é a ela que eu quero, é a ti, Anda agora, não me deixes, mas só oiço a chuva e não te encontro mais. Já corri todos os lugares que eram nossos e todas as ruas onde deixaste o eco do teu riso, todos os cantos onde ficaram as mágoas das tuas lágrimas, Vem, por favor, mas os ecos e as mágoas desvaneceram-se e não te encontro mais.
Perdi-te e agora já não sei o sabor das tuas palavras, a cor das tuas manias ou a suavidade dos teus olhos. Perdi-te, e se fugiste ou se foi sem intenção tua não sei. Perdi-te e jamais agora te encontro, porque te perdi e agora sou eu que me perco sob as furiosas chuvas de abril.

[Para o Colinas.]

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