domingo, 31 de maio de 2009

Quero sentar-me na noite.

Quero sentar-me na noite e jogar às cartas com o Silêncio.
Esquecer que há mais que aquelas trevas banhadas de luz rasgada
e que aqueles momentos em que as horas não passam.

As cores fundem-se e mesclam-se suavizadas pelos candeeiros,
pelos travos de luar na língua - agridoces, amargura em pó -
pela companhia única que somos eu e o Silêncio.

Se eu não bisco ele não bisca e jogamos assim,
por turnos, este jogo de sorte do qual não gosto
mas serve de entretien e te enlaça e a mim.

Pergunto-me (escassos momentos, os pensamentos escorrem depressa
para o ralo de vácuo do sono) o que me faz a ti tão apegada.
E se não te quero comigo apenas canto.

Trazes contigo o calor da Raiva e o frio da Solidão,
e quando, nesses raros momentos de luto por ti,
vens só, somos quase amantes cansados, não é verdade, meu doce Silêncio?

Se cometêssemos o adultério das palavras,
tropeçando em votos teus por ti por mim por nós pelo resto,
abandonavas-me sem a misericórdia do relancear último.

Derrete a noite e embalamos estas histórias,
as encarnações que vivemos tantos e muitos anos,
és a minha ternura serena e eu sou a tua mundaneidade.

3 comentários:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Ah... dá um pontapé ao silêncio e joga ao peixinho comigo! =D

(Muito lindo ^^)

Beijinhos!

Tiago Mendes disse...

Lindo, lindo. A fazer jus ao primeiro verso revelado há uns meses. Gostei imenso. *

Kath disse...

Tadito do silêncio, Leto. ;_; E eu não gosto de jogar ao peixinho. xD

Na verdade já tinha escrito este poema há uns tempos, inacabado, porque não tinha achado que fizesse, como disseste, jus ao início, mas encontrei-o nos rascunhos no outro dia e achei por bem acabá-lo e postá-lo. :P