terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Caiemos as paredes de branco.

À Crook

Caiemos então as paredes de branco,
Porque o branco não fere os olhos.
Repousemos depois, a hora é boa,
Não compensa o cansaço, que a vida é breve.

Conhecer apenas entorpece os sentidos,
Atrapalha os claros juízo de valor.
Não tomemos para nós mais que as flores,
Mas depois larguemo-las, antes de murchas.

O que vivemos já nos chega, já nos basta;
Não queremos viajar pesados,
Se viajar é forçoso e viajamos no tempo.
O Fado prende-nos e de que vale a rebeldia?

Acreditar em algo mais que no tempo,
Deixa que te diga, sem mais rodeios vãos,
É coisa fútil, bem o sabes.
Agarra agora teu coração, ata-o a ti.

Que não te fuja a glória enquanto crianças somos,
E se crianças formos para sempre,
Mesmo adultos sisudos austeros exasperados,
Seremos gloriosos com o esplendor dos que não crescem.

E quiçá seremos mais bem-amados,
Talvez o tempo nos perdoe as falhas e os medos.
Vivemos porque nos passa o tempo,
Devemos a vida à mortalidade.

Sente-o, escorre por ti e toca-te a pele,
Parece o vento, mas o vento não traz o fim.
Sopram-se as flores do teu regaço para o longe
E espalham-se no horizonte para lá, para céu.

Cantaria se minha voz fosse mais que efémera,
Sorriria se meu sorriso te tocasse;
Não dura mais que um momento,
Não te toca senão os olhos.

E apartados somos tão próximos quanto juntos,
Nunca estendemos os braços, não há enlaces,
Quão fútil seria o amor, esse duvidoso,
Se reduzido a troca de toques.

Não tenhas pois medo do tempo,
Queda-te e vive e sabe o que é viver,
Que não é mais que sentir o tempo escoado,
E das memórias despoja-te.

Eu ficarei aqui, (em qualquer lado é bom,
Todo o lado é o mesmo) a ver-te,
E de ti recolherei apenas os olhos.
Serão, no fim, oferendas a Caronte.

3 comentários:

Anónimo disse...

Costumo vir dar um pulinho por aqui de quando em quando.

É quase incrível como me pareces conhecer tão bem. Belissímo poema, em tom de confidência, as asserções deixam-me segura.

Mesmo que muita gente não goste, espero poder ser sempre criança (e preguiçosa :P).

Obrigada. Nunca te agradeço tanto quanto mereces.

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

O poema ficou lindo... mas o branco fere a vista xD

Beijinhos!

Kath disse...

"Obrigada. Nunca te agradeço tanto quanto mereces."

Também é verdade da minha parte. Por isso é que me senti na necessidade de te escrever alguma coisa. E ser criança para sempre é um dos meus sonhos.